Texto publicado no livro de 1986 com o título "Viagem à Líbia". Lançado em Curitiba, Brasil. Este livro não é um diário convencional de viagem, mas o relato de uma experiência que considero das mais interessantes: uma viagem à Líbia em plena efervescência política durante o primeiro ataque militar norte-americano ao Golfo de Sidra.
Algumas partes são datadas, outras não. Isso tem uma explicação: embora tenha ficado duas semanas na Líbia, não foi possível redigir matérias diárias ou fazer anotações porque nossa programação era intensa, passei muito tempo fazendo visitas, conversando com pessoas de diversos países e – por que não? – curtindo as praias do mar Mediterrâneo.
Além desses relatos, decidi incluir matérias posteriores. No ano de 1982, quando dos covardes ataques israelenses ao Líbano, passei a participar em Maringá do movimento de solidariedade ao Líbano, e por extensão, à causa palestina. Fundamos o Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Líbano e à Palestina, publicamos jornais, panfletos, fizemos passeatas, atos públicos e uma mostra de cinema com palestras de diplomatas, entre os quais um dos representantes da O.L.P. no Brasil.
Através da convivência política – movimento estudantil e sindical – com descendentes de árabes radicados no Brasil, fui tomando conhecimento das verdadeiras proporções das guerras no Oriente Médio, suas verdadeiras causas e intenções internacionais. Na época era comum estar na casa de algum amigo (Kassim, Hassan, Saleh entre outros) que recebia cartas de familiares do Líbano contando os horrores da guerra e a barbárie promovida por Israel e Estados Unidos em terras árabes.
Durante alguns meses li muitos livros sobre esse tema. No ano de 1984 trabalhei como repórter do jornal ‘Alvorada’, editado pelo Centro Cultural Árabe-Brasileiro de Foz do Iguaçu. Nessa época li os primeiros livros sobre a Líbia e entendi, rapidamente, que a Líbia representa um perigo para os interesses colonialistas dos EUA e Israel no mundo árabe, onde predominam os regimes capitalistas e monarquias, apesar da grande tradição de luta do povo árabe.
Neste ano de 1986, no mês de março, fui convidado a visitar a Líbia juntamente com uma comitiva de quase 20 pessoas, entre intelectuais, políticos e artistas brasileiros, para assistirmos à realização da 2° Mathaba, uma Conferência Mundial de luta contra o racismo, o imperialismo, o sionismo e o fascismo. Ofereceram-me 30 dias na Líbia, na categoria de jornalista, e de Curitiba foi comigo o comerciante Ali Mohamed Ali Weizani (falecido), companheiro de viagem muitas vezes citado neste livro. Um verdadeiro amigo.
Por motivo de trabalho, ficamos apenas 12 dias naquele país. Decidi publicar este livro porque a Líbia que conheci é diferente daquela mostrada pela grande imprensa, monopolizada pelo sionismo racista internacional. As agências internacionais de notícias mostram a Líbia como um centro de treinamento de terroristas, e o que eu vi foi um país sendo reconstruído, um povo bom e humilde, mas orgulhoso de sua liberdade.
Vi um regime político verdadeiramente socialista. Quanto à guerra de propaganda contra a Líbia, nós do Terceiro Mundo já estamos acostumados com isso porque o mesmo acontece em relação à Nicarágua, aconteceu com Cuba e União Soviética. Mas, a exemplo desses países, a Jamahiria Líbia também saberá vencer esse desafio porque seu povo está unido e sabe o que quer.
continua.....
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